O
escritor Wolfgang Von Goethe escrevia em pé. Ele mantinha em
sua casa uma escrivaninha alta.
O
escritor Pedro Nova parafusava os móveis de sua casa a fim que
ninguém o tirasse do lugar.
Gilberto
Freyre nunca manuseou aparelhos eletrônicos. Não sabia ligar sequer uma
televisão. Todas as obras foram escritas a bico-de-pena, como o mais extenso de
seus livros, Ordem e Progresso, de 703 páginas.
Euclides da
Cunha, Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, foi engenheiro
responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo (SP). A obra
demorou três anos para ficar pronta e, alguns meses depois de inaugurada, a
ponte simplesmente ruiu. Ele não se deu por vencido e a reconstruiu. Mas, por
via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro.
Machado de
Assis, nosso grande escritor, ultrapassou tanto as barreiras sociais
bem como físicas. Machado teve uma infância sofrida pela pobreza e ainda era
míope, gago e sofria de epilepsia. Enquanto escrevia Memórias Póstumas de Brás
Cubas, Machado foi acometido por uma de suas piores crises intestinais, com
complicações para sua frágil visão. Os médicos recomendaram três meses de
descanso em Petrópolis. Sem poder ler nem redigir, ditou grande parte do romance
para a esposa, Carolina.
Graciliano
Ramos era ateu convicto, mas tinha uma Bíblia na cabeceira só para
apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica. Por insistência da sogra,
casou na igreja com Maria Augusta, católica fervorosa, mas exigiu que a
cerimônia ficasse restrita aos pais do casal. No segundo casamento, com Heloísa,
evitou transtornos: casou logo no religioso.
Aluísio de
Azevedo tinha o hábito de, antes de escrever seus romances, desenhar e
pintar, sobre papelão, as personagens principais mantendo-as em sua mesa de
trabalho, enquanto escrevia.
José Lins do Rego era fanático por
futebol. Foi diretor do Flamengo, do Rio, e chegou a chefiar a delegação
brasileira no Campeonato Sul-Americano, em 1953.
Aos dezessete anos,
Carlos Drummond de Andrade foi expulso do Colégio Anchieta, em
Nova Friburgo (RJ), depois de um desentendimento com o professor de português.
Imitava com perfeição a assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante
anos para lhe poupar trabalho. Ninguém notou. Tinha a mania de picotar papel e
tecidos. "Se não fizer isso, saio matando gente pela rua". Estraçalhou uma
camisa nova em folha do neto. "Experimentei, ficou apertada, achei que tinha
comprado o número errado. Mas não se impressione, amanhã lhe dou outra
igualzinha."
Numa das viagens a Portugal,
Cecília Meireles marcou um encontro com o poeta Fernando Pessoa
no café A Brasileira, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até as
duas horas da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel, onde recebeu um livro
autografado pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o
"furo": Fernando Pessoa tinha lido seu horóscopo pela manhã e concluído que não
era um bom dia para o encontro.
Érico
Veríssimo era quase tão taciturno quanto o filho Luís Fernando, também
escritor. Numa viagem de trem a Cruz Alta, Érico fez uma pergunta que o filho
respondeu quatro horas depois, quando chegavam à estação final.
Clarice
Lispector era solitária e tinha crises de insônia. Ligava para os
amigos e dizia coisas perturbadoras. Imprevisível, era comum ser convidada para
jantar e ir embora antes de a comida ser servida.
Monteiro
Lobato adorava café com farinha de milho, rapadura e içá torrado (a
bolinha traseira da formiga tanajura), além de Biotônico Fontoura. "Para ele,
era licor", diverte-se Joyce, a neta do escritor. Também tinha mania de
consertar tudo. "Mas para arrumar uma coisa, sempre quebrava outra."
Manuel
Bandeira sempre se gabou de um encontro com Machado de Assis, aos dez
anos, numa viagem de trem. Puxou conversa: "O senhor gosta de Camões?" Bandeira
recitou uma oitava de Os Lusíadas que o mestre não lembrava. Na velhice,
confessou: era mentira. Tinha inventado a história para impressionar os amigos.
Foi escoteiro dos nove aos treze anos. Nadador do Minas Tênis Clube, ganhou o
título de campeão mineiro em 1939, no estilo costas.
Guimarães
Rosa, médico recém-formado, trabalhou em lugarejos que não constavam no
mapa. Cavalgava a noite inteira para atender a pacientes que viviam em
longínquas fazendas. As consultas eram pagas com bolo, pudim, galinha e ovos.
Sentia-se culpado quando os pacientes morriam. Acabou abandonando a profissão.
"Não tinha vocação. Quase desmaiava ao ver sangue", conta Agnes, a filha mais
nova.
Mário de
Andrade provocava ciúmes no antropólogo Lévi-Strauss porque era muito
amigo da mulher dele, Dina. Só depois da morte de Mário, o francês descobriu que
se preocupava em vão. O escritor era homossexual. Vinicius de Moraes, casado
com Lila Bosco, no início dos anos 50, morava num minúsculo apartamento em
Copacabana. Não tinha geladeira. Para agüentar o calor, chupava uma bala de
hortelã e, em seguida, bebia um copo de água para ter sensação refrescante na
boca.
José Lins do
Rego foi o primeiro a quebrar as regras na ABL, em 1955. Em vez de
elogiar o antecessor, como de costume, disse que Ataulfo de Paiva não poderia
ter ocupado a cadeira por faltar-lhe vocação. Rodaram o videoteipe para
confirmar a validade de um lance contra o seu Fluminense. Foi unanimidade:
pênalti claro. Nelson Rodrigues gritou: "Câmera em mim! Se o videoteipe diz que
foi pênalti, pior para ele. O videoteipe é burro! E é só o que tenho a
dizer."
Para agradar ao poeta,
Chico Buarque "escalou" um jogador do Náutico na Seleção
Brasileira, de brincadeirinha. João Cabral de Melo Neto agradeceu a homenagem,
com uma ressalva: "Meu time é o América do Recife".
Jorge Amado
para autorizar a adaptação de Gabriela para a tevê, impôs que o papel principal
fosse dado a Sônia Braga. "Por quê?", perguntavam os jornalistas, Jorge
respondeu: "O motivo é simples: nós somos amantes." Ficou todo mundo de boca
aberta. O clima ficou mais pesado quando Sônia apareceu. Mas ele se levantou e,
muito formal disse: "Muito prazer, encantado." Era piada. Os dois nem se
conheciam até então.
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