Meninos carvoeiros
Os meninos
carvoeiros Passam a caminho da cidade. — Eh, carvoero! E vão tocando os
animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e
velhos. Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. A aniagem é toda
remendada. Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha
que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)
— Eh, carvoero! Só
mesmo estas crianças raquíticas Vão bem com estes burrinhos
descadeirados. A madrugada ingênua parece feita para eles . . . Pequenina,
ingênua miséria! Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se
brincásseis!
—Eh, carvoero!
Quando voltam, vêm mordendo
num pão encarvoado, Encarapitados nas alimárias, Apostando
corrida, Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos
desamparados.
Petrópolis,
1921
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E pensar que Bandeira já abordava na literatura modernista uma problemática que ainda aflige o Brasil: o trabalho infantil.
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